Brasil – 21 anos sem a pólio.

ago 13, 2015

Em 29 de setembro de 1994, as Américas receberam o certificado de erradicação da poliomielite. Ao longo do século 20, o Brasil enfrentou uma série de epidemias da doença que vitimou inúmeras crianças, deixando graves sequelas. Dos primeiros registros da pólio até a sua erradicação, o País percorreu um longo caminho e adotou diversas estratégias, que incluíram campanhas, Dias Nacionais de Vacinação e imunização nos postos de saúde, explica a historiadora Dilene R. do Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

“No início, quando a poliomielite começou a aparecer, não se sabia que doença era aquela. Só se viam as sequelas, não se sabia a dimensão da doença”, afirma a pesquisadora. Entre as primeiras epidemias no País, destacou-se o surto de 1953 no Rio de Janeiro. No episódio, o número de casos por 100 mil habitantes chegou a 21,5. “Foi um índice bastante alto. Além disso, só 1% das pessoas com pólio desenvolvem sequelas. Quando se identifica um caso de sequela por pólio, há mais 99 casos ao redor daquele doente”, diz Dilene.

Foi após a descoberta de vacinas contra a pólio que o País começou a vencer a doença. No Brasil, optou-se pela vacina Sabin, feita com o vírus atenuado. Além de ser mais barata e de fácil aplicação, a vacina também podia ser transportada mais facilmente. “Certamente era mais fácil de a população aceitar a vacina: são duas gotinhas na boca das crianças. Então, o Brasil começou a aplicar a Sabin em campanha”, explicou a pesquisadora. A vacina Salk, por outro lado, era injetável, elaborada com o vírus morto.

Bastante restritas, as primeiras campanhas contra a poliomielite no Brasil ocorreram na década de 1960 em municípios do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. A primeira tentativa nacional de combate à doença ocorreu em 1971, quando o Ministério da Saúde estabeleceu um plano nacional de controle da pólio. Foi no início da década de 1980 que o governo brasileiro lançou mão dos Dias Nacionais de Vacinação. “Em um único dia, em todo o território nacional, todas as crianças de até cinco anos de idade deveriam ser vacinadas contra a poliomielite”, afirma Dilene. A estratégia surtiu efeito e os casos da doença começaram a diminuir.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) teve papel importante no processo de controle da poliomielite no Brasil, por meio de Biomanguinhos, que atuou na fabricação das vacinas. “Biomanguinhos verificou que a composição da vacina seria mais adequada se se colocasse mais quantidade de um determinado antígeno. Assim foi feito e assim se acabou com uma epidemia no Nordeste”, explica Dilene. Ela lembra ainda a atuação do departamento de virologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), que chegou a formas mais rápidas de identificar o vírus da pólio, e da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), cujos epidemiologistas foram a campo coordenar a vacinação, não apenas no Brasil, mas em outros países da América Latina.

De acordo com Dilene, mais do que acabar com a propagação da doença no continente, o trabalho para erradicação da pólio colaborou para disseminar a cultura da vacinação. “Além da erradicação, teve-se mais ganhos, e um dos ganhos fundamentais foi a questão da cultura da vacinação. A população passou a aceitar com facilidade e mesmo a procurar a vacina. Isso é da maior importância no sentido