Exemplares dos periódicos “O Operário do Progresso”, “O Horizonte” e “Gazeta da Victoria” foram microfilmados e estão disponibilizados para pesquisa no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES). Os jornais, que circularam nas décadas de 1870 e 1880, são dos municípios de Itapemirim e Vitória, e trazem questões significativas sobre a sociedade da época e os principais debates políticos que agitavam a população. Os materiais passam a fazer parte da Coleção “Imprensa Capixaba” do APEES, composta por 73 periódicos publicados desde o ano de 1849.
Cada impresso possui sua própria característica e formato. Porém, alguns aspectos são comuns dentre eles, principalmente no que se refere às informações divulgadas. Eles apresentam, de modo geral, os atos oficiais de Governo, seções noticiosas, editais, artigos, anúncios, poesias e crônicas, permitindo o acesso a novos dados para estudos e análises sobre o Espírito Santo da segunda metade do século XIX.
Analisar os meios de comunicação como forças ativas e não apenas como meros registros dos acontecimentos permitem apreender a relevância dos jornais como fontes para a História. Os significados plurais dos textos, as estratégias para alcançar um público mais amplo e a forma como os leitores assimilam a escrita constituem-se importantes temas para refletir as vivências do passado.
No século XIX há no Brasil uma imprensa ainda incipiente. Os papéis impressos surgiram no país muito depois do que na Europa e outras partes da América. Ela se inicia de forma sistemática a partir de 1808, com a chegada da corte portuguesa e a instalação da tipografia da Impressão Régia. O primeiro periódico brasileiro foi “A Gazeta do Rio de Janeiro”, que tinha a função de divulgar os assuntos oficiais provenientes do Poder Imperial. No Espírito Santo antes do aparecimento do jornal inaugural, em 1840, circulavam pelas ruas de Vitória apenas pasquins manuscritos. Com o advento do Império, os raros pasquins continuavam na capital enquanto uma série de publicações já aparecia nas províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Somente quando se tornou uma necessidade oficial dar publicidade às decisões do Executivo é que se inicia a imprensa capixaba. Essa preocupação mostra-se presente quando, em 1835, o presidente do Espírito Santo encaminha um ofício reclamando a falta de uma tipografia na qual os atos da Assembleia pudessem ser divulgados. Ela surge apenas em 1840, por iniciativa do alferes Ayres Vieira de Albuquerque Tovar, e nela é publicado o primeiro jornal capixaba, “O Estafeta”, que não passou da edição inicial. A imprensa começa efetivamente com o “Correio da Victoria”, na década de 1840.
Os pioneiros jornais capixabas, assim como grande parte dos periódicos brasileiros, tinham por característica a forte aproximação entre os redatores e a política. Os impressos na Província eram redigidos por bacharéis, com participação nas atividades partidárias. Dentre os aspectos que se sobressaíam na imprensa local destacam-se a produção artesanal, o conteúdo idealista e a influência da literatura. Sendo assim, os principais partidos tinham as suas publicações, nas quais se davam os debates de opiniões, sem preocupações com a imparcialidade ou a neutralidade.
As notícias eram repletas de adjetivos, os textos apresentavam um cunho opinativo e os redatores cumpriam o papel de novos agentes culturais e políticos. Apesar de ser imprescindível ter cuidado, para não tratar os jornais como espelhos e reflexos não problemáticos de uma época – uma vez que a escrita traz as impressões e ideais dos seus autores – pode-se afirmar que eles possuem relevantes informações, que permitem conhecer melhor as relações sociais e o cotidiano dos moradores da cidade de Vitória no decorrer do tempo.