O Dr. Evandro Duccini de Souza, cirurgião de cabeça e pescoço, fala sobre a rouquidão, suas prováveis causas e sobre os procedimentos iniciais para evitar o aparecimento de calos nas cordas vocais.
O que são nódulos e pólipos das cordas vocais
São pequenas formações benignas que se produzem nas cordas vocais devido a uma inflamação cronica. Esta pode ser provocada por uma má utilização da voz ou pela ação de substâncias irritantes, tais como cigarro, e se manifesta na forma de rouquidão.
Um nódulo corresponde a um tumor reduzido e especificamente localizado do tamanho de uma cabeça de alfinete. Na maioria dos casos, a formação de nódulos simétricos em ambas as cordas vocais na área de maior fricção das mesmas é provocada pelo forçar da voz, normalmente no ponto de união do terço anterior e dos dois terços posteriores.
O pólipo é uma formação também pequena; mas, embora de tamanho variável, é sempre maior do que os nódulos, pois pode atingir o tamanho de uma ervilha. O tumor sobressai da corda vocal e tende a dilatar-se durante o seu crescimento, até que a massa fica unida à sua superfície através de um pedúnculo. Na maioria dos casos, apenas se forma um único pólipo. No entanto, por vezes, podem-se constituir duas ou mais formações.
A formação dos nódulos e dos pólipos é provocada pela irritação repetida ou persistente das cordas vocais. Habitualmente, são originados por uma má utilização ou abuso da voz, mas também pela ação de substâncias irritantes. A má utilização da voz consiste, regra geral, na utilização de um timbre ou de um tom de voz forçado, sobretudo quando se utiliza artificialmente uma frequência baixa, enquanto que o abuso consiste simplesmente em vociferar. De fato, em alguns casos, estas lesões aparecem em crianças que costumam comunicar através de gritos, em vendedores ambulantes que apregoam com insistência a sua mercadoria e em telefonistas, oradores, políticos, cantores e professores que, para se fazerem ouvir, têm de levantar o tom de voz, abusando das frequências baixas e provocando tensão das cordas vocais e a sua repetida fricção num ponto localizado, o que dá origem a uma tumefação nessa zona, com a possível formação de um nódulo. Esta situação acaba por conduzir a uma proliferação exagerada de fibras no tecido conjuntivo, com o consequente desenvolvimento de um pólipo. Pode ter consequências semelhantes a uma inflamação cronica das cordas vocais, devido a inalação repetida de substâncias irritantes, sobretudo o fumo, mas também aos pós e vapores presentes no ar. É muito comum estas doenças afetarem os fumadores ou pessoas que trabalham em ambientes repletos de fumo e pó.
O sintoma mais típico é a rouquidão, que em termos médicos se denomina disfonia, tratando-se de uma característica alteração do timbre ou das habituais qualidades da voz.
Os nódulos costumam originar uma rouquidão de intensidade variável, por vezes muito intensa. Em alguns casos, quando se abusa pontualmente da voz, transforma-se numa verdadeira afonia, que quase impossibilita a fala, não permitindo cantar. No entanto, não costuma provocar qualquer outro tipo de problemas.
Por outro lado, os pólipos costumam provocar, para além da rouquidão, uma tosse irritante e, se forem muito volumosos, podem chegar a obstruir o interior da laringe, levando a uma dificuldade respiratória de maior ou menor intensidade. 0 grau de disfonia varia de caso para caso, consoante o tamanho e a localização dos tumores, mas também pode passar por grandes alterações no mesmo paciente, conforme a posição adoptada pelos pólipos quando pendem de um pedúnculo que lhes concede um maior ou menor grau de mobilidade.
Tratamento
A primeira medida terapêutica essencial para parar a progressão das lesões consiste em eliminar a causa, quer esta seja a má utilização da voz ou a exposição a substâncias irritantes.
Em caso de nódulos, é fundamental a colaboração de um terapeuta da fala que ensine exercícios para reeducar a voz, um requisito indispensável para travar a evolução do problema e, por vezes, suficiente para o atenuar. Quando as alterações da voz são intensas ou têm tendência para piorar, imprescindível manter a voz em repouso, sendo bastante úteis as inalações de vapor. O médico também pode indicar a utilização de anti-inflamatórios potentes, do grupo dos costicosteróides, com o intuito de alcançar uma rápida melhoria da voz. Caso os problemas não melhorem ou piorem com frequência, pode ser necessário efetuar uma intervenção cirúrgica para extrair os nódulos.
Relativamente aos pólipos, o problema apenas se costuma resolver através da cirurgia. De qualquer forma, é igualmente importante evitar os fatores causadores, com vista a impedir a sua recorrência – neste sentido, é muito útil efetuar sessões com um terapeuta da fala para reeducar a voz.
A intervenção efetua-se com técnicas de microcirurgia que permitem eliminar unicamente os tumores através de bisturi ou mediante a utilização de laser, respeitando as restantes cordas vocais. Trata-se de uma operação que exige muita perícia do cirurgião e não provoca grandes problemas ao paciente, pois realiza-se sob anestesia local e, em muitos casos, nem sequer necessita de hospitalização. Após uma curta convalescença, a voz regressa ao normal, ainda que o cirurgião indique, por vezes, sessões com o terapeuta da fala para favorecer a recuperação.
Os nódulos e os pólipos das cordas vocais são doenças benignas que não implicam qualquer risco para a saúde, embora…
(…) a sua principal manifestação, a disfonia ou rouquidão, possa ser provocada por outras doenças mais graves que normalmente exigem um diagnóstico precoce, como é o caso do cancro da laringe. Sendo assim, ainda que pareça ser provocada por um abuso da voz, é importante consultar sempre um médico.
O otorrinolaringologista não tem dificuldade em reconhecer os nódulos e os pólipos ao inspecionar as cordas vocais através da observação do paciente. No entanto, não é de estranhar que ao longo deste exame se realize uma biopsia, ou seja, se remova uma pequena amostra da lesão para a sua posterior análise ao microscópio – desta forma, ter-se-á a certeza sobre a sua benignidade e eliminar-se-á a hipótese de cancro. Além disso, quanto mais cedo se determinar a natureza do problema, melhor.
Os nódulos e os pólipos das cordas vocais tendem a persistir, enquanto o seu tratamento adequado não for efetuado.
Só em casos muitos raros têm tendência para diminuir de tamanho e desaparecer de forma espontânea, especialmente enquanto os fatores causadores não forem eliminados. Todavia, raramente têm uma evolução maligna, como pode ocorrer noutros tipos de inflamação crónica da laringe.
Fonte: http://www.medipedia.pt